Amanda Bonatti
Dançou sem saber que dançava, estava leve, feliz, a moça parecia ter uma luz que o tocava e a sensação de paz era muito grande. Quando a festa acabou, Ricardo levou a moça até a porta de saída, não tinham trocado uma palavra sequer, então ele perguntou seu nome e pediu para ver-lhe o rosto. A moça tirou a máscara e revelou um rosto que só os anjos poderiam ter, tão linda que Ricardo ficou receoso de mostrar-se, ela sorriu, com lábios tão vivos e o olhou de um jeito que parecia enxergar-lhe a alma.
Outubro Sangrento [Quem conta um conto aumenta um ponto] - Amanda Bonatti - O Baile
Olá Clubenautas, tudo bonito de lindo?
Hoje temos um conto da nossa querida Amanda Bonatti, na pegada dark para nosso "Especial Outubro Sangrento" esse é mais sobrenatural, então se você é um medroso pode ler que não tem sangue e vísceras ou demônios horrendos, é mais romântico sobrenatural, porque a Mandy é fofa e gente fofa não consegue ser malévola hahahahahah
Hoje temos um conto da nossa querida Amanda Bonatti, na pegada dark para nosso "Especial Outubro Sangrento" esse é mais sobrenatural, então se você é um medroso pode ler que não tem sangue e vísceras ou demônios horrendos, é mais romântico sobrenatural, porque a Mandy é fofa e gente fofa não consegue ser malévola hahahahahah
Diferente da
maioria dos jovens de sua idade, mais calado, introspectivo, parecia não ter
muitos amigos, andava sempre calmamente e não tinha namorada, ao menos nunca
foi visto com uma. Aliás, isso pareceu
ganhar força em seus pensamentos depois que completou dezoito anos e foi para a
faculdade, ali, poderia reescrever essa página de sua vida e esquecer a
adolescência apagada pela timidez.
Seu pai, um
respeitado médico que apesar da grande preocupação com a família, vivia sempre
muito atarefado e mal aproveitava seu tempo em casa ou tirava férias, sua mãe,
Dona Sofia, uma esposa dedicada que se casou cedo e nada mais fazia do que
cuidar da casa, do marido e de Ricardo, único filho do casal.
Ah sim, o nome
dele, Ricardo, rapaz bom e formoso, moreno, nem muito alto e nem baixo, olhos
escuros, sorriso tímido, mas de uma beleza rara, enxergada por todos, menos por
ele, que se julgava feio e desengonçado.
Nunca deu
nenhum tipo de trabalho para seus pais, sempre fora preocupado com os estudos,
uma criança saudável, que cresceu e chegou à juventude em volta da família. A
infância e adolescência passaram tão rápido que quando sua mãe viu, ele já era
um rapaz feito, e estava indo para a faculdade.
Foi perto da
hora do almoço, enquanto esperava a criada servir a mesa, sua mãe puxou o
assunto: —
—Ricardo,
quando começa as aulas na Faculdade?
—Acho que na
próxima semana...
—Já? Você não
parece muito entusiasmado! O que foi meu filho? Há dias que o vejo pensativo...
Seria a influência de seu pai na sua escolha pela Medicina? Você não está
contente não é mesmo? Gostaria de Advogar? Ou o que?
—Não Senhora,
acredito que meu pai tenha razão, é uma boa escolha, estou apenas ansioso, eu
acho, deve ser isso!
Dizendo isso,
pousou um beijo amoroso na testa de Ricardo e foram almoçar.
Na verdade,
Ricardo não sabia se queria ser Médico, passar a vida cuidando dos outros, dos
problemas dos outros, sem tempo para nada, assim como seu pai. Sua maior
preocupação era em torna-se alguém melhor, mais feliz, viver emoções, se
apaixonar, bem diferente de tudo o que já tinha vivido.
Na faculdade
teve que fazer um grande esforço, para ser mais sociável, entrar num grupo de
amigos, tentou até o time de futebol, não queria ser o mais bonito, nem o mais
popular, apenas ter alguns amigos e ser notado por alguma garota.
Nos estudos,
sem fazer muito esforço ou passar noites em claro estudando, era um dos
melhores alunos da classe, muito inteligente como sempre fora e com o apoio do
seu pai, aprendia com facilidade, vinha se destacando entre os demais e foi
assim que conseguiu a admiração dos professores e o respeito dos colegas.
Segundo ano da
faculdade, o carnaval estava por vir, e nos corredores da conservadora
Faculdade onde Ricardo estudava, todos comentavam do famoso Baile de Máscaras
que aconteceria, e que nem ele, nem nenhum de seus colegas pertencentes à elite
carioca perderiam por nada.
Ricardo, mais
do que ninguém desejava ir ao baile, seria esse o grande marco de sua vida, os
colegas de sala vieram comentar com ele:
—Salve, salve
Ricardo! Prepare já uma máscara para ti, baile igual a este nunca mais meu
amigo, será o melhor de muitos, estão todos a comentar! E não imaginas o que o
anonimato de uma máscara pode proporcionar.
—Sim, eu
imagino, não perderei, amanhã mesmo vou a cidade escolher uma máscara.
—Vamos logo
hoje! Depois da aula, combinamos com os outros e vamos... Que acha?
—Por mim tudo
bem, eu... Bom, vocês querem ver minha máscara não é mesmo? Para me observarem
na festa e me fazer gracejos depois?
Saíram todos
descontraídos, rindo com a brincadeira de Ricardo, e ele se sentiu intimamente
feliz, um Baile de Máscaras, nada mais propício, ficou pensando no que o colega
havia falado.
Muitos romances
deram início nesses bailes, a brincadeira de descobrir quem estava por detrás
da máscara dava um clima especial e envolvia as pessoas num suspense
extasiante. Ricardo estava ansioso, saiu da aula com os colegas e escolheu a
sua máscara, aquela que o faria sentir-se mais confiante.
—Ricardo, bela
escolha essa sua máscara! Ah não, não ficarei tomando conta de ti na festa,
podes estar certo de que as garotas me interessarão mais! E a você também! Mas
vamos juntos ao baile? Vou dirigindo, convidei nosso amigo Carlos Junques
também.
—Sim Flávio,
obrigado pelo convite, conversamos mais amanhã...
Chegou contente
em casa uma hora depois do horário de costume e sua mãe já tinha dado por sua
falta, quando entrou veio ter com ele, seu olhar estava perturbado e Ricardo
estranhou sua apreensão:
—Ricardo? As
aulas terminaram tarde hoje?
—Eu fui à
cidade antes de vir para casa, é que vai ter um... Tudo bem? Você está
chorando?
—Ah! Sim meu
filho, você não imagina... O seu pai... Estou desesperada... Eu...
—O que foi,
diga logo, estou ficando aflito!
—Seu pai sofreu
um ataque, não sei filho, acho que é coisa do coração, ele esta no hospital,
temo pela vida dele! Tantos anos sem se cuidar, trabalhando dia após dia e
esqueceu-se de si próprio!
—Calma, mãe,
vai ficar tudo bem, vamos ao Hospital, vou dirigindo.
—Não há
necessidade, você está nervoso, também não tem muita prática, vamos com o
motorista.
Ricardo foi ao
seu quarto e deu um grande suspiro, mil emoções se misturavam dentro dele,
depois de um dia tão feliz, planejando uma festa, receber uma noticia dessas,
ele teve medo de que seu pai morresse antes que chegasse ao hospital.
—Quero vê-lo,
preciso dar-lhe um abraço!
O semblante
desesperado de Ricardo comoveu a todos do plantão do hospital naquela noite.
Eram pai e
filho separados por algo que nenhum dos dois conseguia entender, tinham o mais
verdadeiro do amor dentro deles e não sabiam como expressá-lo, tinham esquecido
como fazê-lo. Agora seu pai estava inconsciente, os médicos ainda estavam examinando
para saber o que estava acontecendo e ele não pôde ver e nem falar com seu pai,
nem ao menos tentar falar aquilo que estava tão difícil de dizer.
Uma semana se
passou e seu pai estava no mesmo estado, em coma, ou comatose, como o professor
da Faculdade falava, mas nada do que tinha aprendido nas aulas poderia usar
para acalmar sua mãe, e a si mesmo.
Continuou a
freqüentar as aulas normalmente, ninguém soube do que estava acontecendo.
Estava confuso, triste, mas não podia parar as aulas, afinal era o que seu pai
queria, estava ali por ele.
No dia do
Baile, todos só falavam da festa, de suas máscaras, das garotas... Sua mãe
ficou de passar a noite no Hospital e falou que Ricardo fosse para casa
descansar, estava preocupada, não queria que nada atrapalhasse os estudos do
filho.
Aproximou-se de
Ricardo, que olhava para seu pai inconsciente, deu-lhe um beijo e pediu que
fosse para casa:
—Vá meu filho,
eu ficarei aqui, descanse... Eu amo você, eu e seu pai amamos você!
—Eu também amo
vocês!
Disse isso e uma
lágrima escorreu pelo seu rosto, Ricardo a enxugou antes que sua mãe pudesse
ver.
Ele queria
tanto ir ao Baile, a máscara ali, sobre a cama, junto à roupa que escolhera
imaginando as emoções, os prazeres, as garotas, os amigos... Às vinte horas
Flávio e Carlos Junques passaram em sua casa e Ricardo teve que inventar a mais
bela das mentiras para convencer os amigos de que não poderia ir à festa.
Deitou-se e não
conseguiu dormir, pensou em sua vida, sua adolescência e no vazio que sentia, a
claridade da lua entrava pela sua janela e o convidava para sair. Passavam das vinte e duas horas quando
Ricardo resolveu que iria ao baile de carnaval, estava sozinho em casa,
resolveu pegar o carro e dirigir ele mesmo.
No mesmo
momento em que ligava o carro e se dirigia a festa, do outro lado da cidade,
uma mulher chorava a morte do marido e fazia-se luto no hospital pela perda de
um exemplar colega de trabalho.
Ricardo dirigiu
tão rápido que nem se lembrava como havia chegado à festa, não queria perder um
minuto sequer, sua cabeça doía muito, estava atordoado e não sabia por que,
colocou a máscara e entrou no salão, olhou ao redor e não viu ninguém
conhecido, enquanto procurava por Flávio e Carlos, uma linda visão o fez parar.
Como ela era
linda, usava um fino vestido branco e rosa, com fitas de cetim entrelaçadas á
cintura, seus cabelos, lindos cachos dourados, não podia ver seu rosto, mas
suas mãos eram finas e de pele suave, Ricardo sentiu até o seu perfume, ficou
completamente paralisado.
Flávio passou e
Ricardo chamou pelo amigo, mas este nem parou e nem olhou para trás, sumiu no
meio dos demais, estranho, Ricardo sabia que era ele, tinha visto sua máscara e
conhecia muito bem até o seu jeito durão de andar. Mas logo se esqueceu do
episódio, tinha um anjo para contemplar.
E ela estava
bem perto dele, parecia até que o olhava, ele se sentiu tão atraído que não
resistiu chegar mais perto, encheu-se de coragem, vendo que a moça estava
sozinha se aproximou mais ainda e tocou-lhe a mão. Foi tudo muito mágico,
parecia que ela esperava por ele, sentiu uma forte emoção o envolver e dançou
levemente com ela pelo salão.
Dançou sem saber que dançava, estava leve, feliz, a moça parecia ter uma luz que o tocava e a sensação de paz era muito grande. Quando a festa acabou, Ricardo levou a moça até a porta de saída, não tinham trocado uma palavra sequer, então ele perguntou seu nome e pediu para ver-lhe o rosto. A moça tirou a máscara e revelou um rosto que só os anjos poderiam ter, tão linda que Ricardo ficou receoso de mostrar-se, ela sorriu, com lábios tão vivos e o olhou de um jeito que parecia enxergar-lhe a alma.
Ricardo sentiu
um arrepio e também mostrou seu rosto, ela sorriu mais amorosamente:
—Me chamo Lúcia
—Ricardo
E os dois se
beijaram... Ao longe alguém gritou:
—Ricardo!?
Era Flávio que
o chamava, Ricardo virou-se para trás e viu seu amigo, que o olhava parecendo
não saber se era mesmo Ricardo que estava ali, olhou durante alguns instantes,
se virou e foi embora.
—Flávio! Sou
eu... Resolvi vir! Ah, se foi, gostaria de apresentar-lhe meu amigo... Lúcia?
Lúcia?
Ricardo olhou
para os lados e não a viu, mas como pode? Estava ali agora mesmo, ele havia a
beijado e ela foi embora... Será que havia saído tão rapidamente que seus olhos
não puderam acompanhar? Ficou algum tempo parado ali, até que todos se foram.
Estava cansado,
seu corpo estava dolorido, a dor de cabeça voltou, mas ele estava radiante de
felicidade, ficou procurando onde havia deixado o carro, mas não se lembrava,
parecia que estava vivendo um sonho estranho, estava se sentindo dormente, não
encontrou o carro, teve que voltar para casa caminhando.
No caminho ia
pensando em Lúcia, no seu sorriso, nos olhos inconfundíveis que ele jamais
esqueceria, tinha que encontrar um jeito de revê-la
Chegou em casa
com o corpo dolorido, a sua roupa estava suja, e rasgada, como ele não tinha
percebido isso? Será que estava assim o tempo todo na festa? O caminho por onde
voltou não o deixaria assim... Mal teve tempo de pensar, foi interrompido por
gritos e choros desesperados que vinham do quarto de sua mãe.
—Meu pai! Mãe?
Aconteceu algo com meu...
Encontrou Dona
Sofia quase desmaiada sobre a cama, vestida de preto, soluçando, com uma
tristeza de dar dó, Ricardo correu para abraçá-la, lhe beijou, tentou enxugar
suas lágrimas, falar com ela, mas sua mãe não lhe dirigiu o olhar e nem disse
uma palavra que fosse. Saiu em direção à sala.
—Que vergonha,
meu pai no hospital e eu me divertindo em um baile, minha mãe deve estar com
raiva de mim, no momento em que mais precisou do meu apoio, sou um covarde,
egoísta. Deus me perdoe, pai me perdoe...
Foi atrás de
sua mãe e viu quando saiu de carro, acompanhada de alguns parentes e amigos
mais íntimos, logo atrás ia um carro preto, guiado pelo motorista da família e
repleto de flores, entrou e foi calado durante o caminho, pensou onde poderia
estar o carro do seu pai. Ele não lembrava... Viu que entravam no cemitério da
cidade.
Sentiu a dor
mais profunda que se pode sentir, e chorou como nunca em sua vida, andava e não
sentia seus passos no chão, ninguém o olhava, nem o cumprimentava, estava se
sentindo invisível.
E foi assim
que, confuso, com o corpo dormente e a cabeça girando que ele viu o semblante
de seu pai, que caminhava em sua direção tão sereno que ele mal pode acreditar:
—Ah, estou
tendo devaneios, estou me sentindo muito mal...
Sentou-se em
uma lápide e leu a seguinte frase:
“Lúcia X.
Flores, a mais bela rosa do jardim, que na primavera se despediu da terra, para
dar graça aos jardins do paraíso”
Mas aquele
devaneio não passou e ele pode sentir o abraço do seu pai, que com os olhos
mais fraternos que se possa imaginar, lhe beijou a face e o convidou para um
passeio na vida eterna.
Não sei se foi
exatamente assim que aconteceu, o que todos sabem é que na mesma noite em que
aquele pai e filho deram adeus à vida na terra, Ricardo foi visto pelo amigo
Flávio beijando uma moça no baile de máscaras...
Agora chega de enrolação, e vamos ao que interessa!
FIM
Sobre a Amanda
Amanda Bonatti é Catarinense, Pedagoga, Licenciada em Letras, pós-graduada em supervisão escolar e pós-graduanda em Revisão de Textos. Poeta, escritora, autora dos livros publicados: "Ah! mar Itajaí" e “S.O.S Mamãe de Primeira Viagem” e autora do Romance espírita “Lágrimas de Outono”. Que será publicado pela editora Arwen (Selo SER), na Bienal do Livro SP.
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Algumas regrinhas:
. Terminantemente proibido qualquer manifestação preconceituosa, racista, homofóbica e etc.. Respeito em primeiro lugar sempre.
. É claro que se você me seguir, eu vou lhe seguir, só dizer que seguiu no comentário e colocar seu link (não só segui me segue de volta, ok?)
Obrigada por comentar... a sua presença é muito importante para nós.
Volte sempre ^^
Clubenetes.