[Quem conta um conto aumenta um ponto] O intruso - Amanda Bonatti
Olá! Vamos de conto? Leia na íntegra o conto de suspense: "O intruso", da autora Amanda Bonatti.
O intruso
O intruso
UM CONTO DE AMANDA BONATTI
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— Inferno! — Não sou louco! Ele estava ali, parado,
olhando para mim. Por certo ria, esperando o momento certo, demorando-se,
querendo fazer crescer o pânico, com certeza divertia-se.
Eu estava desligando o notebook — aquelas planilhas e
números amontoados. — Merda! Que dor de cabeça.
A luz forte da tela era o único ponto claro dentro do
quarto. Depois de quatro horas montando a maldita planilha, olhando para aquela
tela branca, enxergar no escuro tornava-se ainda mais difícil. Quando me pus de
pé para acender a luz, o vi.
Não me movi.
O espectro na janela também não se moveu, — há quanto
tempo estaria me observando? — Não fez menção de fugir, não se alarmou com a
possibilidade de ser descoberto.
Precisei ser cauteloso, estava sozinho em casa. O
interruptor há poucos metros, bastava alguns passos e esticar um pouco o braço.
Talvez precisasse tatear um pouco a parede, ainda não
estava familiarizado com a casa nova a ponto de acertar o interruptor no
escuro.
O notebook terminou de finalizar, desligou completamente
e o breu prevaleceu em todo o quarto. Melhor não acender a luz, - desisti. O
estranho com certeza sentia-se protegido por estar no completo escuro, eu
também.
Só vi sua silhueta magra, seus braços esticados junto
ao corpo, imóvel. Diabos! O que queria?
A cortina semiaberta, os respingos da recente chuva, o
leve embaçado causado pelo calor do interior do quarto em contraste com o frio
da madrugada, e aquela ameaça ali, me assistindo.
Precisei entrar no jogo, continuei inerte. Não podia
lhe dar as costas. O coração desenfreadamente pulsátil. Ele não se movia, como
podia ser tão meticuloso? Se deleitava com o meu pânico?
Talvez precisasse ser eu a fazer alguma coisa. Qualquer coisa que fosse, seria melhor do que a
eternidade daqueles minutos.
Eu tenho uma faca! A única arma dentro daquela maldita
casa – preciso da faca!
Dei alguns passos na direção da porta. A assombração
desapareceu!
Droga!
Caminhei lentamente no escuro, atravessei a sala em
direção à cozinha, - O celular! Sim, onde está o celular?
Voltei para a sala, tateando em busca da mesinha.
— Tenho certeza que deixei ali o celular. Aqui! — Agachei
ao lado do sofá. Olhei para a porta, aquele vidrinho no canto que deixava
enxergar através dele.
Será que ele estava ali?
Procurei colocar o telefone entre os joelhos e a perna
para que a luz não revelasse meu esconderijo.
— Qual o número mesmo? Que imbecil esquece o número da
polícia? 199.. 192.. 194, sim... não, não!
Aquela moto insuportável que passava de hora em hora
na frente da casa, guiada pelo guarda-noturno estúpido não havia passado uma
única vez.
A ligação chamou, - mas que merda, como um pulsar de
chamada pode ser tão alto?
Um barulho veio da rua.
— Alô, Corpo de Bombeiros, qual a sua emergência? —
Falaram do outro lado da linha.
O barulho mais uma vez no jardim.
— Droga! Melhor desligar. Quanto tempo afinal
demorariam para chegar aqui? Preciso da faca.
Espreitei-me junto à parede e finalmente alcancei a
cozinha, a pia, a gaveta, a faca.
A luz do poste que fica na rua de trás iluminava um
pouco o canto da cozinha. O brilho da faca reluziu.
Certamente uma boa faca, muito afiada. Sabia que um
dia precisaria dela. Testei na ponta dos dedos, titubeante. Senti um leve ardor
e levei o corte à boca. Sangue quente, gosto de ferrugem, algo do tipo.
Recostado na parede, circulei a sala até estar próximo
a porta de saída. Olhei pelo vidrinho, vi seu contorno de perfil, miúdo,
lânguido.
— Fácil.
Girei com calma a chave na fechadura e em seguida a
maçaneta. Olhei novamente, ele não me ouviu. Coloquei a cabeça para fora,
depois os braços, a perna. Escondi-me atrás da viga da varanda.
Ajeitei a faca, com os punhos cerrados. Ele não deu
pela minha presença.
Alguns passos, ele fez menção de se virar. O acertei!
Um golpe forte e preciso e ele caiu. A faca cravada
entre seus ombros e pescoço. O sangue respigou em meu rosto, quente, gosto
amargo, diferente do meu. Os braços agitaram-se como em uma convulsão febril.
Uma, duas, três vezes e parou.
Meu coração ainda acelerado como pós corrida,
ofegante.
— O matei! Que grande merda, eu o matei!
Talvez fosse esse o seu desejo, matar-me. Eu precisava
fazer alguma coisa. E ainda precisava fazer alguma coisa.
Aquele corpo ali, inerte na grama molhada e eu mal
podia vê-lo, estava tão escuro.
Então o barulho da moto ao longe. Em poucos minutos a
luz do farol iria invadir a rua e penumbra do jardim e eu seria descoberto.
Eu o matei.... Legítima defesa?
A moto cada vez mais perto.
Arrastei o corpo para trás do arbusto perto da varanda.
Escondi-me, a moto passou lenta, quase parando. Não parou. Respirei aliviado.
O que fazer com o corpo?
Entrei na casa ainda sem acender as luzes e tão
sorrateiramente como se ainda estivesse à espera de um ataque, esgueirando-me
pelas curvas da casa até chegar a cozinha.
— Onde está a chave do carro?
Caminhei lentamente até o quarto, tateei no escuro
sobre a cômoda, minhas mãos esbarraram no notebook e meus dedos encontraram a
chave.
Olhei para a janela e ele estava lá, novamente me
olhando, imóvel. Congelei subitamente. — Como podia?
Meus dedos esbarraram nas chaves e ela caiu.
Abaixei-me lentamente.
— Droga! — Ele abaixou-se também.
Levantei o dorso e ele seguiu o gesto, me virei e sai
do quarto, olhando para a janela e vendo que ele desaparecera.
Corri para o jardim. Iluminei o intruso com a luz do
telefone. Estava pálido, com os olhos arregalados.
Ao seu redor um pouco de lixo espalhado, uma sacola
preta... E algumas latas.
FIM
Booh! Agora que vi que foi ao AR!! Esse conto eu escrevi para um projeto junto com os primos meus, que era para ser para uma coletânea, mas o projeto acabou não indo para frente!
ResponderExcluir:)
beijoooooo Clube
AMO