Amanda Bonatti

Haikai, Haiku ou Haicai

quinta-feira, maio 21, 2015,0 Comments


Oi pessoal, o assunto hoje é o Haikai, Haiku ou Haicai. É uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Eu adoro e costumo escrever alguns, abaixo vocês poderão conferir.-No Japão, alguns poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas), são os Haiku.

    Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto o haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo. Muitas vezes, há uma pintura acompanhando o haicai (a pintura é chamada de haiga). 
Exemplo de Haiga
"Haijin" ou Haicaísta, é o nome que se dá aos escritores e poetas adeptos a este desse tipo de poema.

O Haicai no Brasil (No Brasil é escrito haicai)
Segundo Goga (1988), o primeiro autor brasileiro de Haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:

No entanto, quem popularizou o haicai no Brasil foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por Almeida o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil. Eu, acho este esquema é perfeito! Parece complicado, mas continue acompanhando que você verá que é muito simples.


Outra corrente do haicai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda. Esta corrente define haicai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturado em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo (não se assuste com a palavra). Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa, que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: "sakura", "flor de cerejeira", é associada à Primavera).

Flor de Cerejeira


Como fonte nipônica do ainda haiku, em sua forma original, GOGA atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908. Nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu. Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku:

A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.

Lindo né? Nota-se que o autor precisa passar a mensagem poética e para isso ele precisa ser conciso, escolher as palavras certas para causar o efeito desejado. Bom, mas foi na década de 1930 que aconteceu o intercâmbio e difusão do haiku entre haicaístas japoneses e brasileiros, constituindo-se, assim, outro caminho do haikai no Brasil. Foi naquela década também que apareceu a mais antiga coletânea de haikais chamada simplesmente Haikais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. 
Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haikais. Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro de haikais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento – Haicais. As rotas do haikai no Brasil podem ser resumidas cronologicamente da seguinte forma:

Em 1879, através do livro Da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
Em 1908, através da chegada dos imigrantes japoneses ao porto de Santos.
Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colônia por Keiseki e Nenpuku.
Na década de 1930, através do intercâmbio entre haicaístas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga.
Em 1983, Paulo Leminski escreveu uma biografia de Matsuô Bashô. Também publicou diversos haikais.
Com a ambientação e a difusão do haiku em língua portuguesa, algumas correntes de opinião sobre este se formaram:

A corrente dos defensores do conteúdo do haiku;
A corrente dos que atribuem importância à forma;
A corrente dos admiradores da importância do kigo.



Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como a concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaísta que aderiu a essa corrente.


Os que consideram a forma (teikei) como o mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu a essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haikais “guilherminos”. Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:

_______________ X
___ O ______________ O
_______________ X


Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haikais, veja:

Histórias de algumas vidas

Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.

Já os admiradores da importância do kigo respeitam em seus haikais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior é um deles. Apesar de existirem essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como os de Afrânio Peixoto, Millôr Fernandes, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, José Maurício Mazzucco, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Osman Matos, Abel Pereira e Fanny Luíza Dupré são importantes na história do haikai no Brasil.


Aprecie agora, alguns haicais de minha autoria, inspirados na regra de Guilherme de Almeida:


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O Golpe

Golpe. A maldade que espreita
A esperança dorme. E a vingança
Na rua estreita
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Refém

Noite. A estrela no céu,
Ninguém na calçada. E o refém
Caminha ao léu
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Carnaval

Alegria. Num chão puro de quintal
A menina de pés descalços
Sambou, fez carnaval

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Referências

Lanoue, David G. Issa, Cup-of-tea Poems: Selected Haiku of Kobayashi Issa, Asian Humanities Press, 1991, ISBN 0-89581-874-4 p.8
van den Heuvel, Cor. The Haiku Anthology, 2nd edition, Simon & Schuster, 1986, ISBN 0-671-62837-2 p.11
a b c GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.

Espero que tenham curtido, beijos poéticos e até a próxima, com mais poesia.
Amanda Bonatti 

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