Amar Não Basta
Olhando para o escuro, ela se virava na cama sem conseguir encontrar uma posição ideal para dormir. Do seu lado ele roncava e ela se perguntava como era possível dormir em meio à tanta tensão. Respirou fundo e decidiu levantar. Foi até o escritório dele e ligou o computador. Não tinha intenção de achar nada, não queria falar com ninguém. Só queria saber que lá fora a vida continuava acontecendo.
Abriu sites de notícias, verificou diversas vezes seus e-mails, pesquisou fofocas de celebridades. Pelo menos só duas separações aquela semana, mas cinco novos casais. É, pelo visto a angústia do amor ideal não era apenas dela, pobre mortal.
Depois de muitos cliques viu-se digitando “histórias de amor”. Inúmeros sites e blogs pularam na tela e ela teve até medo de clicar. Depois de algumas tentativas acabou achando um blog em que várias histórias de amor eram contadas. Ela se pegou lendo uma por uma, não via o tempo passar, não sentia a coluna doer. De repente estava chorando. Fazia tempo que não chorava e nem se lembrava exatamente quando havia sido a última vez.
Quando leu a última história, tudo pareceu se inquietar ainda mais dentro dela. Eram histórias de todos os tipos, com finais felizes, tristes. Cheias de paixão e amor. E ela se perguntava incessantemente: amar não basta? O amor deveria garantir um final feliz, era isso que ele devia fazer. Mas parecia impossível um final pleno quando o amor está no meio. Será que ele só complica tudo?
Desligou o computador e ficou diante da tela preta. As lágrimas já tinham parado, deixando-a com uma angústia crescente. Onde tudo tinha mudado? Ela se lembrava de todos os momentos bons. Os olhares que os dois trocavam durante o café da manhã. O sexo enlouquecido no meio da noite quando acordavam só para se beijarem. Os encontros furtivos durante o dia corrido de trabalho. O final de semana de chuva debaixo das cobertas falando besteiras. As piadas que só eles entendiam. Parecia outra vida.
Voltou para cama e tentou dormir. Felizmente o sono a presenteou e mesmo sem o abraço dele, ela dormiu. Quando abriu os olhos a cama já estava vazia e novamente um frio percorreu sua espinha. Ele não havia nem lhe dado um beijo, nenhum bilhete. Nada que a fizesse aliviar o peso.
Arrastou-se para fora da cama e foi para cozinha tentar engolir alguma coisa. Depois de meia torrada e um copo de suco, jogou-se debaixo do chuveiro. O dia iria ser longo, muitas reuniões no trabalho e jantar beneficente de noite. Seria mais um dia sem vê-lo, afinal quando chegasse, ele já estaria dormindo.
Pensou em convidá-lo para o jantar. Mandou uma mensagem rápida, torcendo para que ele se animasse. A resposta não demorou: “Estou muito cansado, fica pra próxima. Divirta-se!”. Diversão era a última coisa que ela pensava no momento. E mais uma vez não poderia vê-lo, nem tocá-lo antes de dormir.
Aquela rotina estava virando comum. Ele saía cedo para universidade, dava aula o dia inteiro e chegava cedo para comer e dormir. Ela saía mais tarde para o trabalho, como relações públicas de uma ONG estava sempre a todo vapor, chegando tarde de toda espécie de eventos beneficentes. Acabavam não tendo muito tempo juntos. Não faziam nenhuma refeição juntos. E nos finais de semana ele se trancava no escritório corrigindo provas e trabalhos, ela passava a maior parte no computador respondendo e-mails e resolvendo problemas.
O dia passou. Eles não se falaram nenhuma vez. Quando o jantar beneficente terminou, ela foi dirigindo automaticamente até em casa. Não tinha comido nada o dia inteiro, o ritmo do seu trabalho era tão frenético que ela notava ter perdido alguns quilos nas últimas semanas. Talvez fosse parte da tristeza que a incomodava.
Mas agora sentia fome. Pegou um resto de lasanha congelada e colocou no microondas. Enquanto esquentava ouviu passos leves em direção à cozinha, sabia que era ele. Reconhecia-o apenas pelo andar.
Quando chegou à cozinha ela percebeu que ele não estava dormindo. Seu rosto estava cansado, olheiras preenchiam seus olhos e quando a viu, emitiu um frágil sorriso.
-Espero que não tenha feito barulho demais. – Disse se desculpando.
-Não, eu estava acordado. – Respondeu ele sentando na bancada de frente para ela – Como foi o jantar?
-Como sempre. Cansativo. E para variar, não comi nada.
-Você emagreceu.
Ele notou. Pensou ela ficando feliz.
-Acho que é o ritmo de trabalho. – Falou pegando a lasanha já quente.
-Ou tristeza.
Mantiveram o olhar fixo. Ambos sem saber como respirar, como se mexer. Ele sentenciara uma verdade e os dois sabiam que era difícil assumir toda dor que os afligia. O olhar dele também era triste, angustiado.
-O que aconteceu com a gente Lara? – Perguntou com a voz embargada.
Ela engoliu seco e sentiu a fome sair do seu corpo. Empurrou a lasanha e sentiu seu rosto ficar quente, era o choro que já saía sem qualquer controle. Ele também chorava.
Ficaram ali, compartilhando um silêncio sofrido e um choro angustiado. E não sabiam o que dizer a seguir. Ele segurou a mão dela que estava em cima da mesa e apertou.
-Não dá mais. – Disse em palavras murchas.
-Parece que você tem razão. – Ela se ouviu dizer.
E novamente os dois choraram. Era tão confuso, tão intenso, tão honesto e ao mesmo tempo desigual. Só que naquele instante, os dois sabiam, era a hora. Não havia como evitar. Não existiam meios de retomar o que tinham perdido. Amar não basta. Mas ela o amava. Ele a amava. Um tipo de amor que prefere a felicidade do outro e abre mão por causa disso. E ali estavam os dois. Abrindo mão para tentar fazer o outro mais feliz. Ainda que separados.
Após uma eternidade de tempo, secaram as lágrimas. E foram de mãos dadas até o quarto. Deitaram-se e pela primeira vez em meses, dormiram abraçados.
No dia seguinte, ele fez as malas e foi. Ela ficou, ela chorou, ela se desesperou. A casa se tornou um túmulo. Um silêncio e um vazio a assaltaram, não restou mais nada. Fingiu uma doença para evitar o trabalho. E seu corpo pesava na cama.
No final do dia ele ligou. Queria saber como ela estava e deu o número do flat. Sua nova casa. Automaticamente disseram “eu te amo” no final e o silêncio encerrou a ligação. Quanta dor um coração é capaz de suportar?
Ligou para Anita. A amiga largou tudo e foi. Não a reconheceu de tão abatida. Tomaram uma garrafa de vinho e enfim tocaram no assunto.
-O que houve Lara?
-Não sei. – E realmente não sabia – Por que o amor não é suficiente?
-Que pergunta difícil amiga. Sempre achei que bastasse.
-Eu também. – Assentiu – Mas nós nos amamos. Eu sei. Por que terminou? Por que não conseguimos continuar juntos?
-Eu queria entender Lara. – Pareceu reticente – Será que o Júlio não está...
Ela olhou a amiga indefesa.
-Com outra? – Perguntou tensa.
Anita levantou as sobrancelhas concordando com a hipótese.
-Não, não. Ele nunca faria isso.
-Ele é homem Lara e por melhor que seja...
-Para! Por favor. Isso não é verdade. – Entre lágrimas – Por que um casal não pode se separar por amor?
-Espera amiga! Como assim se separar por amor?
Lara novamente chorou. Quando se acalmou disse.
-Nós nos amamos, mas paramos de fazer bem um ao outro. – Suspirou – Terminamos para que possamos tentar ser felizes.
-Isso é loucura! A gente deve ficar com quem ama! – Defendeu Anita.
-Seria tão lindo e simples se fosse assim.
-Vocês eram meu casal exemplo.
-Tudo mudou e nem sabemos como ou quando. – Afirmou taxativa.
-Mas tinha de partir para separação assim? Tão fácil?
-Fácil? São meses de tortura mútua. Brigas intermináveis e sem motivo. Noites frias sem o acolhimento do corpo um do outro. Sexo obrigatório e sem nenhuma vontade. – Tomou outro gole do vinho – Não foi nada fácil.
Relatou a cena do término e Anita chorou junto. Como era possível serem tão carinhosos quando tudo estava acabando? Uma sensação indescritível de fazer a coisa certa ainda que dolorosa. As duas não tinham mais o que falar, pegaram no sono deitadas no chão da sala.
Duas semanas se passaram e Lara se sentia mais forte, ou menos frágil, quem sabe. Júlio já não ligava para saber dela e ela não tinha coragem de perguntar sobre ele. Seu coração ainda pesava, mas o trabalho tomava-lhe todo tempo dos pensamentos.
Por todos os lugares que passava lembrava-se dele. Ouvia músicas que ele cantava no chuveiro. Assistia aos filmes preferidos dos dois. Comia as comidas que tinham marcado encontros. Tentava reviver sozinha a trajetória daquela história. Queria encontrar o ponto perdido, o lugar onde o erro tinha começado.
Recebia visitas dos pais, do irmão, dos amigos. Não passava os finais de semana sozinha, alguém sempre vinha lhe fazer companhia, mas ela sabia, que bastava fechar os olhos para sentir a presença dele ali e sofrer ainda mais. Achava que não havia mais espaço para dor. Havia se enganado.
Três semanas e meia depois ele veio em casa. Levou consigo os livros preferidos, mais roupas e seus remédios para alergia. Não trocaram muitas palavras. Ele estava tenso, ela inquieta. Quando ele foi, ela sentiu pedaços seus, indo junto. Uma dor ainda mais intensa lhe tomou não apenas o peito, mas o corpo inteiro. Sentiu que sua vida lhe tinha abandonado e agora ela não sabia o que teria pela frente.
Por mais que todos dissessem que aquela dor passava, ela não tinha certeza. Nem sabia se queria que passasse. Enquanto houvesse dor, ele continuava dentro dela, com um amor imaculado, protegido.
[ColaborAutora] Contos da Fê - Amar não basta
Olá Clubenautas, depois do mega sucesso do primeiro conto da Fê nossa ColaborAutora linda e romântica, temos outro presentão...
Outro conto lindo escrito com todo amor do mundo, esse está repleto de reflexão, drama e aprendizagens.... Venha saber porque só amar não basta!
Let´s go! Boa leitura!!!
Amar Não basta
Abriu sites de notícias, verificou diversas vezes seus e-mails, pesquisou fofocas de celebridades. Pelo menos só duas separações aquela semana, mas cinco novos casais. É, pelo visto a angústia do amor ideal não era apenas dela, pobre mortal.
Depois de muitos cliques viu-se digitando “histórias de amor”. Inúmeros sites e blogs pularam na tela e ela teve até medo de clicar. Depois de algumas tentativas acabou achando um blog em que várias histórias de amor eram contadas. Ela se pegou lendo uma por uma, não via o tempo passar, não sentia a coluna doer. De repente estava chorando. Fazia tempo que não chorava e nem se lembrava exatamente quando havia sido a última vez.
Quando leu a última história, tudo pareceu se inquietar ainda mais dentro dela. Eram histórias de todos os tipos, com finais felizes, tristes. Cheias de paixão e amor. E ela se perguntava incessantemente: amar não basta? O amor deveria garantir um final feliz, era isso que ele devia fazer. Mas parecia impossível um final pleno quando o amor está no meio. Será que ele só complica tudo?
Desligou o computador e ficou diante da tela preta. As lágrimas já tinham parado, deixando-a com uma angústia crescente. Onde tudo tinha mudado? Ela se lembrava de todos os momentos bons. Os olhares que os dois trocavam durante o café da manhã. O sexo enlouquecido no meio da noite quando acordavam só para se beijarem. Os encontros furtivos durante o dia corrido de trabalho. O final de semana de chuva debaixo das cobertas falando besteiras. As piadas que só eles entendiam. Parecia outra vida.
Agora não existiam olhares compartilhados, quando se olhavam era com raiva e indignação. As palavras que trocavam eram ferinas. Eram tantas brigas que ao final não era possível discernir o motivo inicial. Só que ela não tinha dúvidas sobre o quanto o amava. Ele era seu marido, capaz de preencher de paz seu mundo interno. Os momentos em que estavam bem, eram os únicos em que ela se sentia plena. Por que esses momentos não podiam durar para sempre?
Continuou imóvel diante do computador. A tela preta, o coração pesado, a ansiedade sufocando. O que ela podia fazer para mudar tudo aquilo? Não sabia por onde começar. Quem estava errado? Sentiu-se exausta. Seu corpo e sua mente não suportavam mais tanto suplício.
Voltou para cama e tentou dormir. Felizmente o sono a presenteou e mesmo sem o abraço dele, ela dormiu. Quando abriu os olhos a cama já estava vazia e novamente um frio percorreu sua espinha. Ele não havia nem lhe dado um beijo, nenhum bilhete. Nada que a fizesse aliviar o peso.
Arrastou-se para fora da cama e foi para cozinha tentar engolir alguma coisa. Depois de meia torrada e um copo de suco, jogou-se debaixo do chuveiro. O dia iria ser longo, muitas reuniões no trabalho e jantar beneficente de noite. Seria mais um dia sem vê-lo, afinal quando chegasse, ele já estaria dormindo.
Pensou em convidá-lo para o jantar. Mandou uma mensagem rápida, torcendo para que ele se animasse. A resposta não demorou: “Estou muito cansado, fica pra próxima. Divirta-se!”. Diversão era a última coisa que ela pensava no momento. E mais uma vez não poderia vê-lo, nem tocá-lo antes de dormir.
Aquela rotina estava virando comum. Ele saía cedo para universidade, dava aula o dia inteiro e chegava cedo para comer e dormir. Ela saía mais tarde para o trabalho, como relações públicas de uma ONG estava sempre a todo vapor, chegando tarde de toda espécie de eventos beneficentes. Acabavam não tendo muito tempo juntos. Não faziam nenhuma refeição juntos. E nos finais de semana ele se trancava no escritório corrigindo provas e trabalhos, ela passava a maior parte no computador respondendo e-mails e resolvendo problemas.
O dia passou. Eles não se falaram nenhuma vez. Quando o jantar beneficente terminou, ela foi dirigindo automaticamente até em casa. Não tinha comido nada o dia inteiro, o ritmo do seu trabalho era tão frenético que ela notava ter perdido alguns quilos nas últimas semanas. Talvez fosse parte da tristeza que a incomodava.
Mas agora sentia fome. Pegou um resto de lasanha congelada e colocou no microondas. Enquanto esquentava ouviu passos leves em direção à cozinha, sabia que era ele. Reconhecia-o apenas pelo andar.
Quando chegou à cozinha ela percebeu que ele não estava dormindo. Seu rosto estava cansado, olheiras preenchiam seus olhos e quando a viu, emitiu um frágil sorriso.
-Espero que não tenha feito barulho demais. – Disse se desculpando.
-Não, eu estava acordado. – Respondeu ele sentando na bancada de frente para ela – Como foi o jantar?
-Como sempre. Cansativo. E para variar, não comi nada.
-Você emagreceu.
Ele notou. Pensou ela ficando feliz.
-Acho que é o ritmo de trabalho. – Falou pegando a lasanha já quente.
-Ou tristeza.
Mantiveram o olhar fixo. Ambos sem saber como respirar, como se mexer. Ele sentenciara uma verdade e os dois sabiam que era difícil assumir toda dor que os afligia. O olhar dele também era triste, angustiado.
-O que aconteceu com a gente Lara? – Perguntou com a voz embargada.
Ela engoliu seco e sentiu a fome sair do seu corpo. Empurrou a lasanha e sentiu seu rosto ficar quente, era o choro que já saía sem qualquer controle. Ele também chorava.
Ficaram ali, compartilhando um silêncio sofrido e um choro angustiado. E não sabiam o que dizer a seguir. Ele segurou a mão dela que estava em cima da mesa e apertou.
-Não dá mais. – Disse em palavras murchas.
Ela sentiu o chão desaparecer. As palavras tensas e excruciantes agora se desnudavam em sua frente. Ela desejou voltar o tempo, talvez cinco segundos antes, uma hora, três meses ou sete anos. Quis voltar naquele dia na porta do cinema em que trocaram olhares pela primeira vez. Queria poder consertar seus erros, mas sabia que não podia. O tempo já havia passado e não existem mágicas.
-Parece que você tem razão. – Ela se ouviu dizer.
E novamente os dois choraram. Era tão confuso, tão intenso, tão honesto e ao mesmo tempo desigual. Só que naquele instante, os dois sabiam, era a hora. Não havia como evitar. Não existiam meios de retomar o que tinham perdido. Amar não basta. Mas ela o amava. Ele a amava. Um tipo de amor que prefere a felicidade do outro e abre mão por causa disso. E ali estavam os dois. Abrindo mão para tentar fazer o outro mais feliz. Ainda que separados.
Após uma eternidade de tempo, secaram as lágrimas. E foram de mãos dadas até o quarto. Deitaram-se e pela primeira vez em meses, dormiram abraçados.
No dia seguinte, ele fez as malas e foi. Ela ficou, ela chorou, ela se desesperou. A casa se tornou um túmulo. Um silêncio e um vazio a assaltaram, não restou mais nada. Fingiu uma doença para evitar o trabalho. E seu corpo pesava na cama.
No final do dia ele ligou. Queria saber como ela estava e deu o número do flat. Sua nova casa. Automaticamente disseram “eu te amo” no final e o silêncio encerrou a ligação. Quanta dor um coração é capaz de suportar?
Ligou para Anita. A amiga largou tudo e foi. Não a reconheceu de tão abatida. Tomaram uma garrafa de vinho e enfim tocaram no assunto.
-O que houve Lara?
-Não sei. – E realmente não sabia – Por que o amor não é suficiente?
-Que pergunta difícil amiga. Sempre achei que bastasse.
-Eu também. – Assentiu – Mas nós nos amamos. Eu sei. Por que terminou? Por que não conseguimos continuar juntos?
-Eu queria entender Lara. – Pareceu reticente – Será que o Júlio não está...
Ela olhou a amiga indefesa.
-Com outra? – Perguntou tensa.
Anita levantou as sobrancelhas concordando com a hipótese.
-Não, não. Ele nunca faria isso.
-Ele é homem Lara e por melhor que seja...
-Para! Por favor. Isso não é verdade. – Entre lágrimas – Por que um casal não pode se separar por amor?
-Espera amiga! Como assim se separar por amor?
Lara novamente chorou. Quando se acalmou disse.
-Nós nos amamos, mas paramos de fazer bem um ao outro. – Suspirou – Terminamos para que possamos tentar ser felizes.
-Isso é loucura! A gente deve ficar com quem ama! – Defendeu Anita.
-Seria tão lindo e simples se fosse assim.
-Vocês eram meu casal exemplo.
-Tudo mudou e nem sabemos como ou quando. – Afirmou taxativa.
-Mas tinha de partir para separação assim? Tão fácil?
-Fácil? São meses de tortura mútua. Brigas intermináveis e sem motivo. Noites frias sem o acolhimento do corpo um do outro. Sexo obrigatório e sem nenhuma vontade. – Tomou outro gole do vinho – Não foi nada fácil.
Relatou a cena do término e Anita chorou junto. Como era possível serem tão carinhosos quando tudo estava acabando? Uma sensação indescritível de fazer a coisa certa ainda que dolorosa. As duas não tinham mais o que falar, pegaram no sono deitadas no chão da sala.
Duas semanas se passaram e Lara se sentia mais forte, ou menos frágil, quem sabe. Júlio já não ligava para saber dela e ela não tinha coragem de perguntar sobre ele. Seu coração ainda pesava, mas o trabalho tomava-lhe todo tempo dos pensamentos.
Por todos os lugares que passava lembrava-se dele. Ouvia músicas que ele cantava no chuveiro. Assistia aos filmes preferidos dos dois. Comia as comidas que tinham marcado encontros. Tentava reviver sozinha a trajetória daquela história. Queria encontrar o ponto perdido, o lugar onde o erro tinha começado.
Recebia visitas dos pais, do irmão, dos amigos. Não passava os finais de semana sozinha, alguém sempre vinha lhe fazer companhia, mas ela sabia, que bastava fechar os olhos para sentir a presença dele ali e sofrer ainda mais. Achava que não havia mais espaço para dor. Havia se enganado.
Três semanas e meia depois ele veio em casa. Levou consigo os livros preferidos, mais roupas e seus remédios para alergia. Não trocaram muitas palavras. Ele estava tenso, ela inquieta. Quando ele foi, ela sentiu pedaços seus, indo junto. Uma dor ainda mais intensa lhe tomou não apenas o peito, mas o corpo inteiro. Sentiu que sua vida lhe tinha abandonado e agora ela não sabia o que teria pela frente.
Por mais que todos dissessem que aquela dor passava, ela não tinha certeza. Nem sabia se queria que passasse. Enquanto houvesse dor, ele continuava dentro dela, com um amor imaculado, protegido.
Quando a dor fosse embora, o amor também ia e era disso que ela tinha medo. Não podia deixar de amá-lo. Era só isso que seu coração sabia fazer, era por causa desse amor que ela esperava alguma coisa boa do futuro. Sem ele tudo parecia escuro demais.
Mais semanas se passaram e de repente três meses haviam ido embora. E todos os dias ela acordava com um gosto amargo na boca e um frio dentro de si. Todos os dias, planejava descobrir o motivo, o erro e se sentia inútil quando as respostas não apareciam.
E no dia que fez quatro meses ele apareceu de manhã bem cedo. Entregou as chaves da casa e pediu licença para entrar. Ela abriu e seguiram até o sofá. Antes que ele abrisse a boca ela sentiu, ele estava ali para lhe dar a temida notícia. Ela o conhecia bem demais.
-Lara. Eu preciso te falar uma coisa.
Ela sentou na poltrona de frente para ele.
-Eu... Estou saindo com outra pessoa.
Ela ouviu aquelas palavras como quem vê uma cena repetida de um filme. Ela sabia que aquele dia chegaria e não tinha planejado nenhum tipo de reação.
-Então foi por isso que...
-Não! Não! – Interrompeu ele – Por favor, nunca pense que traí você. Eu nunca faria isso. E também não conhecia a Jéssica naquela época.
-Jéssica. – Repetiu automática.
-Sim. É esse o nome dela. Nós nos conhecemos...
-Por favor, eu não preciso saber.
-Tudo bem. – Parou envergonhado – Mas acredite em mim, não foi antes, não foi traição. Eu não planejei nada. E só estamos nos conhecendo, saindo um pouco.
-Júlio, eu não consigo ser sua confidente amorosa.
Sentiu seu rosto molhar. E ele levantou para tocar-lhe o rosto. Ela se esquivou. Ele entendeu e recuou.
-Eu não queria te fazer sofrer Lara.
-Eu não queria sofrer.
Sem dizer mais nada ele novamente se foi. E ela desabou. Tinha raiva, pânico, ansiedade, tudo misturado dentro de si. Quando parou, prometeu a si mesma que seguiria em frente. Não podia mais permitir que seu coração fosse esmagado daquela forma. Foi até o quarto dos dois reuniu tudo que era dele e ainda estava lá. Colocou tudo em caixas, ligou para um amigo em comum e pediu que levasse.
Um ano e quatro meses se passaram. Lá estava ela em um encontro. Cinema, jantar, primeiro beijo. Ligações, mais encontros e agora ela também estava namorando. Fazia tempo que não via Júlio, mas sabia que ele continuava com Jéssica. Ainda doía.
Num sábado à tarde sentou-se na cama para tirar as sandálias. Rodrigo, seu namorado, havia ido embora há poucos minutos. E ela sentiu o cheiro dele, de Júlio. Aquele cheiro que por anos era tão aconchegante. Sentiu saudade. Quis vê-lo desesperadamente. Queria falar com ele, ouvir sua voz, segurar sua mão. E a dor voltou. Ou reapareceu. E ela sabia, o amor continuava ali, intacto.
Nenhum dos tinha entrado com pedido de divórcio e naquele momento parecia um sinal. Uma pontinha de esperança a tomou. Será que havia chance? Tentou dispersar os pensamentos. Tanto tempo tinha passado. Os dois estavam comprometidos. Por que agora seria diferente do que já tinha sido antes?
Só não conseguia mentir para si mesma e continuar namorando. Ligou para Rodrigo, pôs um ponto final. Ele não entendeu, mas ela tinha certeza, mais uma vez. Seguiu com a vida, sem expectativas de um novo amor, apenas trabalhando, dormindo, comendo. Seguiu.
Mais uma semana e no sábado seguinte alguém tocou sua campainha. Era fim de tarde e ela se sentia sozinha, pensou que alguma amiga tivesse vindo fazer companhia. Abriu a porta e lá estava ele: Júlio.
-Posso entrar?
-Claro.
Dirigiu-se à cozinha. Ela fechou a porta e foi atrás dele, que estava sentado na bancada. Sentou-se de frente para ele e notou que a cena se repetia. Mas os dois estavam diferentes. Ele sorriu e novamente lhe apertou a mão.
Eles sorriram, se levantaram e depois de muito tempo seus lábios apaixonadamente se juntaram e eles souberam que tinham tudo que era preciso. O amor basta, quando junto dele vem toda vontade de fazer dar certo. E nunca mais largaram as mãos um do outro.
Mais semanas se passaram e de repente três meses haviam ido embora. E todos os dias ela acordava com um gosto amargo na boca e um frio dentro de si. Todos os dias, planejava descobrir o motivo, o erro e se sentia inútil quando as respostas não apareciam.
E no dia que fez quatro meses ele apareceu de manhã bem cedo. Entregou as chaves da casa e pediu licença para entrar. Ela abriu e seguiram até o sofá. Antes que ele abrisse a boca ela sentiu, ele estava ali para lhe dar a temida notícia. Ela o conhecia bem demais.
-Lara. Eu preciso te falar uma coisa.
Ela sentou na poltrona de frente para ele.
-Eu... Estou saindo com outra pessoa.
Ela ouviu aquelas palavras como quem vê uma cena repetida de um filme. Ela sabia que aquele dia chegaria e não tinha planejado nenhum tipo de reação.
-Então foi por isso que...
-Não! Não! – Interrompeu ele – Por favor, nunca pense que traí você. Eu nunca faria isso. E também não conhecia a Jéssica naquela época.
-Jéssica. – Repetiu automática.
-Sim. É esse o nome dela. Nós nos conhecemos...
-Por favor, eu não preciso saber.
-Tudo bem. – Parou envergonhado – Mas acredite em mim, não foi antes, não foi traição. Eu não planejei nada. E só estamos nos conhecendo, saindo um pouco.
-Júlio, eu não consigo ser sua confidente amorosa.
Sentiu seu rosto molhar. E ele levantou para tocar-lhe o rosto. Ela se esquivou. Ele entendeu e recuou.
-Eu não queria te fazer sofrer Lara.
-Eu não queria sofrer.
Sem dizer mais nada ele novamente se foi. E ela desabou. Tinha raiva, pânico, ansiedade, tudo misturado dentro de si. Quando parou, prometeu a si mesma que seguiria em frente. Não podia mais permitir que seu coração fosse esmagado daquela forma. Foi até o quarto dos dois reuniu tudo que era dele e ainda estava lá. Colocou tudo em caixas, ligou para um amigo em comum e pediu que levasse.
Esperou que ele ligasse para dizer alguma coisa. Desejava ouvi-lo. Queria que ele sentisse, se arrependesse e voltasse para ela, mas no fundo sabia que não aconteceria. Ele havia seguido em frente. Ela também seguiria.
Um ano e quatro meses se passaram. Lá estava ela em um encontro. Cinema, jantar, primeiro beijo. Ligações, mais encontros e agora ela também estava namorando. Fazia tempo que não via Júlio, mas sabia que ele continuava com Jéssica. Ainda doía.
Num sábado à tarde sentou-se na cama para tirar as sandálias. Rodrigo, seu namorado, havia ido embora há poucos minutos. E ela sentiu o cheiro dele, de Júlio. Aquele cheiro que por anos era tão aconchegante. Sentiu saudade. Quis vê-lo desesperadamente. Queria falar com ele, ouvir sua voz, segurar sua mão. E a dor voltou. Ou reapareceu. E ela sabia, o amor continuava ali, intacto.
Nenhum dos tinha entrado com pedido de divórcio e naquele momento parecia um sinal. Uma pontinha de esperança a tomou. Será que havia chance? Tentou dispersar os pensamentos. Tanto tempo tinha passado. Os dois estavam comprometidos. Por que agora seria diferente do que já tinha sido antes?
Só não conseguia mentir para si mesma e continuar namorando. Ligou para Rodrigo, pôs um ponto final. Ele não entendeu, mas ela tinha certeza, mais uma vez. Seguiu com a vida, sem expectativas de um novo amor, apenas trabalhando, dormindo, comendo. Seguiu.
Mais uma semana e no sábado seguinte alguém tocou sua campainha. Era fim de tarde e ela se sentia sozinha, pensou que alguma amiga tivesse vindo fazer companhia. Abriu a porta e lá estava ele: Júlio.
-Posso entrar?
-Claro.
Dirigiu-se à cozinha. Ela fechou a porta e foi atrás dele, que estava sentado na bancada. Sentou-se de frente para ele e notou que a cena se repetia. Mas os dois estavam diferentes. Ele sorriu e novamente lhe apertou a mão.
-Sua falta me dói. – Confessou ele.
-Essa dor também permanece em mim. – Completou ela.
-Terminei com a Jéssica desde sábado.
-E eu com o Rodrigo, também no sábado.
Trocaram sorrisos.
-Pode parecer loucura Lara, mas eu te amo ainda mais hoje.
-Um tipo de amor capaz de superar a si mesmo?
-Sim.
-Aquele amor que cala as palavras ferinas?
-Isso.
-Amor que não mede defeitos?
-Totalmente.
-É, nesse caso, acho que o amor deve bastar.
-Isso que dizer que você? – Quis entender ele.
-Que eu também te amo mais hoje. Com o tipo de amor capaz de reconstruir tudo de novo.
Eles sorriram, se levantaram e depois de muito tempo seus lábios apaixonadamente se juntaram e eles souberam que tinham tudo que era preciso. O amor basta, quando junto dele vem toda vontade de fazer dar certo. E nunca mais largaram as mãos um do outro.
Fim.
Não tem como não se apaixonar Adorei, e me emocionei bastante ao ler. Estou com meu noivo a 8 anos e ja passei por coisas parecidas como essa, mas nunca chegamos a nos separar. Mas relacionamentos são assim. As vezes precisamos dar rumos em nossas vidas diferente, para que possamos dar mais valor ao que temos.
ResponderExcluirbjus
Oie!
ResponderExcluirNossa que conto mais lindo! Sabe que fiquei imaginando em um livro... todo aquele drama, a tristeza, a recuperação, o encontro... e depois esse final lindo! Parabéns, emocionante!
Bjks!
http://www.historias-semfim.com/
Ai, eu tava totalmente na bad hoje sabe? Kkkk aí você me vem com um texto emocionante desses! Foi pra acabar com meu emocional mesmo. Muito bonito, bem escrito, senti tudo que a personagem sentiu. Quando foi passando um tempo bateu um desespero de não ter um final feliz kkk. Mas fpi super fofo o final, parabéns!!
ResponderExcluirXx
Caramba, muito legal!! Tava querendo ler algo diferente e emocionante e, então, isso.... perfeito! *-*
ResponderExcluirBjsss
http://umavidaliteraria1.blogspot.com.br
Que conto mais lindo!!!!
ResponderExcluirE olha que eu não sou a maior leitora de contos, mas enquanto lia, não queria que acabasse.
Amor e relacionamentos não são relações fáceis de serem mantidas. Como você disse, amor basta quando ele está acompanhado pela vontade de dar certo!
Adorei o conto!!! Quero mais!!!!
Beijinhos,
Lica
Amores e Livros
EU SOU FÃ DA FÊ!!!! #prontofalei
ResponderExcluirEla tem o dom de me emocionar… Eu leio seus escritos e vejo verdades. Vejo sentimentos e problemas tão humanos que me levam ao lugar dos seus personagens. Ela é incrível. Amei esse conto. Acho que ela soube desenvolver o término de um casamento, a tentativa de seguir em frente, o amor que parece às vezes não bastar… sufocado pela rotina, pela distância, pela solidão compartilhada na mesma cama. Então, a ausência do outro parece que torna a sua presença ainda mais forte. Resgata o desejo de fazer dar certo. Resgata as lembranças de uma história juntos. Resgata a certeza de que já encontrou a pessoa amada. Gostei muito desse conto. Da mensagem que ele transmite.
"O amor basta, quando junto dele vem toda vontade de fazer dar certo." – Que lindo!
Parabéns à Fê, ao seu talento. Que ela nunca pare de escrever.
Beijos!
http://www.myqueenside.blogspot.com
Nossa....que lindo.... Não gosto quando tem separações e sinceramente achei que o Rodrigo e a Jéssica eram permanentes. ....
ResponderExcluirLindo o conto. Apaixonante. Vi a estória em um livro. Adorei.
Parabéns!
Bjs
Nossa....que lindo.... Não gosto quando tem separações e sinceramente achei que o Rodrigo e a Jéssica eram permanentes. ....
ResponderExcluirLindo o conto. Apaixonante. Vi a estória em um livro. Adorei.
Parabéns!
Bjs
Oiee ^^
ResponderExcluirFê, que conto mais lindo ♥ até chorei aqui ♥ A última frase da Lara foi tão linda que eu juro que quase gritei de felicidade. Ver os dois na situação anterior, sofrendo, me partiu o coração. Amei a sua escrita, e com certeza lerei mais contos (e livros, quem sabe?) seus ♥ Amei ♥
MilkMilks
http://shakedepalavras.blogspot.com.br
Que conto lindo! Amei o que li por cima, ainda quero ler direito quando tiver mais tempo, mas de tudo que eu li eu adorei. Muita sinceridade nas palavras da autora e muita sensibilidade.
ResponderExcluirwww.apenasumvicio.com
Olá,
ResponderExcluirbonito o contro me fez pensar em várias coisas. As vezes no dia-a-dia da relação esquecemos de cuidar dela nos pequenos detalhes e quando nos damos conta, perdemos oportunidades, enfim amor pe algo que precisa ser cuidado. Bjus!!!
http://www.lendoaestante.blogspot.com/
Não curto muito contos, mas achei esse muito bem escrito. O final ficou lindo e emocionante, apesar de eu não ter conseguido acreditar o tempo todo no amor desse casal. Não acredito em separações sem um motivo forte, e me pareceu que eles foram precipitados, que nem tentaram dialogar antes do dia em que decidiram que os dois tinham que abrir mão de estar juntos pela felicidade um do outro. Ainda assim, espero ler outros textos da Fê!
ResponderExcluirBeijo!
Ju
Entre Palcos e Livros
Hey!
ResponderExcluirÓtimo conto, bem emotivo, nos faz reparar nos pequenos detalhes da relação e que o amor pode estar mais perto do que imagina.
http://aproveiteolivro.blogspot.com.br/
Olá Fê,
ResponderExcluirQue texto mais emocionante. Estou toda arrepiada de ter lido e muito feliz por ter tido a oportunidade - e o prazer - de ter vivido essa experiência.
Adorei todas as suas palavras e conhecer a história do Júlio e da Lara. Às vezes, precisamos nos afastar daqueles que amamos para apendermos, ainda mais.
Espero que você continue escrevendo e nos surpreenda ainda mais.
Beijos,
Bru
Um Oceano de Histórias
Obrigada a todos por dedicarem uns minutinhos de vocês para lerem esse conto!
ResponderExcluirNos vemos em breve com um conto de Natal!
Beijinhos