Amanda Bonatti

Outubro Sangrento [Quem conta um conto aumenta um ponto] - Amanda Bonatti - O Baile

domingo, outubro 23, 2016,0 Comments

Olá Clubenautas, tudo bonito de lindo?
Hoje temos um conto da nossa querida Amanda Bonatti, na pegada dark para nosso "Especial Outubro Sangrento" esse é mais sobrenatural, então se você é um medroso pode ler que não tem sangue e vísceras ou demônios horrendos, é mais romântico sobrenatural, porque a Mandy é fofa e gente fofa não consegue ser malévola hahahahahah



O Baile -Amanda Bonatti
Diferente da maioria dos jovens de sua idade, mais calado, introspectivo, parecia não ter muitos amigos, andava sempre calmamente e não tinha namorada, ao menos nunca foi visto com uma.  Aliás, isso pareceu ganhar força em seus pensamentos depois que completou dezoito anos e foi para a faculdade, ali, poderia reescrever essa página de sua vida e esquecer a adolescência apagada pela timidez.
Seu pai, um respeitado médico que apesar da grande preocupação com a família, vivia sempre muito atarefado e mal aproveitava seu tempo em casa ou tirava férias, sua mãe, Dona Sofia, uma esposa dedicada que se casou cedo e nada mais fazia do que cuidar da casa, do marido e de Ricardo, único filho do casal.
Ah sim, o nome dele, Ricardo, rapaz bom e formoso, moreno, nem muito alto e nem baixo, olhos escuros, sorriso tímido, mas de uma beleza rara, enxergada por todos, menos por ele, que se julgava feio e desengonçado.
Nunca deu nenhum tipo de trabalho para seus pais, sempre fora preocupado com os estudos, uma criança saudável, que cresceu e chegou à juventude em volta da família. A infância e adolescência passaram tão rápido que quando sua mãe viu, ele já era um rapaz feito, e estava indo para a faculdade.
Foi perto da hora do almoço, enquanto esperava a criada servir a mesa, sua mãe puxou o assunto: —
—Ricardo, quando começa as aulas na Faculdade?
—Acho que na próxima semana...
—Já? Você não parece muito entusiasmado! O que foi meu filho? Há dias que o vejo pensativo... Seria a influência de seu pai na sua escolha pela Medicina? Você não está contente não é mesmo? Gostaria de Advogar? Ou o que?
—Não Senhora, acredito que meu pai tenha razão, é uma boa escolha, estou apenas ansioso, eu acho, deve ser isso!
—Não quero que se sinta forçado, essa é uma escolha muito pessoal, só queremos o seu bem...
Dizendo isso, pousou um beijo amoroso na testa de Ricardo e foram almoçar.
Na verdade, Ricardo não sabia se queria ser Médico, passar a vida cuidando dos outros, dos problemas dos outros, sem tempo para nada, assim como seu pai. Sua maior preocupação era em torna-se alguém melhor, mais feliz, viver emoções, se apaixonar, bem diferente de tudo o que já tinha vivido.
Na faculdade teve que fazer um grande esforço, para ser mais sociável, entrar num grupo de amigos, tentou até o time de futebol, não queria ser o mais bonito, nem o mais popular, apenas ter alguns amigos e ser notado por alguma garota.
Nos estudos, sem fazer muito esforço ou passar noites em claro estudando, era um dos melhores alunos da classe, muito inteligente como sempre fora e com o apoio do seu pai, aprendia com facilidade, vinha se destacando entre os demais e foi assim que conseguiu a admiração dos professores e o respeito dos colegas.
Segundo ano da faculdade, o carnaval estava por vir, e nos corredores da conservadora Faculdade onde Ricardo estudava, todos comentavam do famoso Baile de Máscaras que aconteceria, e que nem ele, nem nenhum de seus colegas pertencentes à elite carioca perderiam por nada.
Ricardo, mais do que ninguém desejava ir ao baile, seria esse o grande marco de sua vida, os colegas de sala vieram comentar com ele:
—Salve, salve Ricardo! Prepare já uma máscara para ti, baile igual a este nunca mais meu amigo, será o melhor de muitos, estão todos a comentar! E não imaginas o que o anonimato de uma máscara pode proporcionar.
—Sim, eu imagino, não perderei, amanhã mesmo vou a cidade escolher uma máscara.
—Vamos logo hoje! Depois da aula, combinamos com os outros e vamos... Que acha?
—Por mim tudo bem, eu... Bom, vocês querem ver minha máscara não é mesmo? Para me observarem na festa e me fazer gracejos depois?

Saíram todos descontraídos, rindo com a brincadeira de Ricardo, e ele se sentiu intimamente feliz, um Baile de Máscaras, nada mais propício, ficou pensando no que o colega havia falado.
Muitos romances deram início nesses bailes, a brincadeira de descobrir quem estava por detrás da máscara dava um clima especial e envolvia as pessoas num suspense extasiante. Ricardo estava ansioso, saiu da aula com os colegas e escolheu a sua máscara, aquela que o faria sentir-se mais confiante.
—Ricardo, bela escolha essa sua máscara! Ah não, não ficarei tomando conta de ti na festa, podes estar certo de que as garotas me interessarão mais! E a você também! Mas vamos juntos ao baile? Vou dirigindo, convidei nosso amigo Carlos Junques também.
—Sim Flávio, obrigado pelo convite, conversamos mais amanhã...
Chegou contente em casa uma hora depois do horário de costume e sua mãe já tinha dado por sua falta, quando entrou veio ter com ele, seu olhar estava perturbado e Ricardo estranhou sua apreensão:
—Ricardo? As aulas terminaram tarde hoje?
—Eu fui à cidade antes de vir para casa, é que vai ter um... Tudo bem? Você está chorando?
—Ah! Sim meu filho, você não imagina... O seu pai... Estou desesperada... Eu...
—O que foi, diga logo, estou ficando aflito!
—Seu pai sofreu um ataque, não sei filho, acho que é coisa do coração, ele esta no hospital, temo pela vida dele! Tantos anos sem se cuidar, trabalhando dia após dia e esqueceu-se de si próprio!
—Calma, mãe, vai ficar tudo bem, vamos ao Hospital, vou dirigindo.
—Não há necessidade, você está nervoso, também não tem muita prática, vamos com o motorista.
Ricardo foi ao seu quarto e deu um grande suspiro, mil emoções se misturavam dentro dele, depois de um dia tão feliz, planejando uma festa, receber uma noticia dessas, ele teve medo de que seu pai morresse antes que chegasse ao hospital.
—Quero vê-lo, preciso dar-lhe um abraço!
O semblante desesperado de Ricardo comoveu a todos do plantão do hospital naquela noite.
Eram pai e filho separados por algo que nenhum dos dois conseguia entender, tinham o mais verdadeiro do amor dentro deles e não sabiam como expressá-lo, tinham esquecido como fazê-lo. Agora seu pai estava inconsciente, os médicos ainda estavam examinando para saber o que estava acontecendo e ele não pôde ver e nem falar com seu pai, nem ao menos tentar falar aquilo que estava tão difícil de dizer.
Uma semana se passou e seu pai estava no mesmo estado, em coma, ou comatose, como o professor da Faculdade falava, mas nada do que tinha aprendido nas aulas poderia usar para acalmar sua mãe, e a si mesmo.
Continuou a freqüentar as aulas normalmente, ninguém soube do que estava acontecendo. Estava confuso, triste, mas não podia parar as aulas, afinal era o que seu pai queria, estava ali por ele.
No dia do Baile, todos só falavam da festa, de suas máscaras, das garotas... Sua mãe ficou de passar a noite no Hospital e falou que Ricardo fosse para casa descansar, estava preocupada, não queria que nada atrapalhasse os estudos do filho.
Aproximou-se de Ricardo, que olhava para seu pai inconsciente, deu-lhe um beijo e pediu que fosse para casa:
—Vá meu filho, eu ficarei aqui, descanse... Eu amo você, eu e seu pai amamos você!
—Eu também amo vocês!

Disse isso e uma lágrima escorreu pelo seu rosto, Ricardo a enxugou antes que sua mãe pudesse ver.
Ele queria tanto ir ao Baile, a máscara ali, sobre a cama, junto à roupa que escolhera imaginando as emoções, os prazeres, as garotas, os amigos... Às vinte horas Flávio e Carlos Junques passaram em sua casa e Ricardo teve que inventar a mais bela das mentiras para convencer os amigos de que não poderia ir à festa.
Deitou-se e não conseguiu dormir, pensou em sua vida, sua adolescência e no vazio que sentia, a claridade da lua entrava pela sua janela e o convidava para sair.  Passavam das vinte e duas horas quando Ricardo resolveu que iria ao baile de carnaval, estava sozinho em casa, resolveu pegar o carro e dirigir ele mesmo.
No mesmo momento em que ligava o carro e se dirigia a festa, do outro lado da cidade, uma mulher chorava a morte do marido e fazia-se luto no hospital pela perda de um exemplar colega de trabalho.
Ricardo dirigiu tão rápido que nem se lembrava como havia chegado à festa, não queria perder um minuto sequer, sua cabeça doía muito, estava atordoado e não sabia por que, colocou a máscara e entrou no salão, olhou ao redor e não viu ninguém conhecido, enquanto procurava por Flávio e Carlos, uma linda visão o fez parar.
Como ela era linda, usava um fino vestido branco e rosa, com fitas de cetim entrelaçadas á cintura, seus cabelos, lindos cachos dourados, não podia ver seu rosto, mas suas mãos eram finas e de pele suave, Ricardo sentiu até o seu perfume, ficou completamente paralisado.
Flávio passou e Ricardo chamou pelo amigo, mas este nem parou e nem olhou para trás, sumiu no meio dos demais, estranho, Ricardo sabia que era ele, tinha visto sua máscara e conhecia muito bem até o seu jeito durão de andar. Mas logo se esqueceu do episódio, tinha um anjo para contemplar.
E ela estava bem perto dele, parecia até que o olhava, ele se sentiu tão atraído que não resistiu chegar mais perto, encheu-se de coragem, vendo que a moça estava sozinha se aproximou mais ainda e tocou-lhe a mão. Foi tudo muito mágico, parecia que ela esperava por ele, sentiu uma forte emoção o envolver e dançou levemente com ela pelo salão.


Dançou sem saber que dançava, estava leve, feliz, a moça parecia ter uma luz que o tocava e a sensação de paz era muito grande. Quando a festa acabou, Ricardo levou a moça até a porta de saída, não tinham trocado uma palavra sequer, então ele perguntou seu nome e pediu para ver-lhe o rosto. A moça tirou a máscara e revelou um rosto que só os anjos poderiam ter, tão linda que Ricardo ficou receoso de mostrar-se, ela sorriu, com lábios tão vivos e o olhou de um jeito que parecia enxergar-lhe a alma.
Ricardo sentiu um arrepio e também mostrou seu rosto, ela sorriu mais amorosamente:
—Me chamo Lúcia
—Ricardo
E os dois se beijaram... Ao longe alguém gritou:
—Ricardo!?
Era Flávio que o chamava, Ricardo virou-se para trás e viu seu amigo, que o olhava parecendo não saber se era mesmo Ricardo que estava ali, olhou durante alguns instantes, se virou e foi embora.
—Flávio! Sou eu... Resolvi vir! Ah, se foi, gostaria de apresentar-lhe meu amigo... Lúcia? Lúcia?
Ricardo olhou para os lados e não a viu, mas como pode? Estava ali agora mesmo, ele havia a beijado e ela foi embora... Será que havia saído tão rapidamente que seus olhos não puderam acompanhar? Ficou algum tempo parado ali, até que todos se foram.
Estava cansado, seu corpo estava dolorido, a dor de cabeça voltou, mas ele estava radiante de felicidade, ficou procurando onde havia deixado o carro, mas não se lembrava, parecia que estava vivendo um sonho estranho, estava se sentindo dormente, não encontrou o carro, teve que voltar para casa caminhando.
No caminho ia pensando em Lúcia, no seu sorriso, nos olhos inconfundíveis que ele jamais esqueceria, tinha que encontrar um jeito de revê-la
Chegou em casa com o corpo dolorido, a sua roupa estava suja, e rasgada, como ele não tinha percebido isso? Será que estava assim o tempo todo na festa? O caminho por onde voltou não o deixaria assim... Mal teve tempo de pensar, foi interrompido por gritos e choros desesperados que vinham do quarto de sua mãe.
—Meu pai! Mãe? Aconteceu algo com meu...
Encontrou Dona Sofia quase desmaiada sobre a cama, vestida de preto, soluçando, com uma tristeza de dar dó, Ricardo correu para abraçá-la, lhe beijou, tentou enxugar suas lágrimas, falar com ela, mas sua mãe não lhe dirigiu o olhar e nem disse uma palavra que fosse. Saiu em direção à sala.
—Que vergonha, meu pai no hospital e eu me divertindo em um baile, minha mãe deve estar com raiva de mim, no momento em que mais precisou do meu apoio, sou um covarde, egoísta. Deus me perdoe, pai me perdoe...
Foi atrás de sua mãe e viu quando saiu de carro, acompanhada de alguns parentes e amigos mais íntimos, logo atrás ia um carro preto, guiado pelo motorista da família e repleto de flores, entrou e foi calado durante o caminho, pensou onde poderia estar o carro do seu pai. Ele não lembrava... Viu que entravam no cemitério da cidade.
Sentiu a dor mais profunda que se pode sentir, e chorou como nunca em sua vida, andava e não sentia seus passos no chão, ninguém o olhava, nem o cumprimentava, estava se sentindo invisível.
E foi assim que, confuso, com o corpo dormente e a cabeça girando que ele viu o semblante de seu pai, que caminhava em sua direção tão sereno que ele mal pode acreditar:
—Ah, estou tendo devaneios, estou me sentindo muito mal...
Sentou-se em uma lápide e leu a seguinte frase:

“Lúcia X. Flores, a mais bela rosa do jardim, que na primavera se despediu da terra, para dar graça aos jardins do paraíso”
Mas aquele devaneio não passou e ele pode sentir o abraço do seu pai, que com os olhos mais fraternos que se possa imaginar, lhe beijou a face e o convidou para um passeio na vida eterna.
Não sei se foi exatamente assim que aconteceu, o que todos sabem é que na mesma noite em que aquele pai e filho deram adeus à vida na terra, Ricardo foi visto pelo amigo Flávio beijando uma moça no baile de máscaras...


Agora chega de enrolação, e vamos ao que interessa!
FIM


Sobre a Amanda 


Amanda Bonatti é Catarinense, Pedagoga, Licenciada em Letras, pós-graduada em supervisão escolar e pós-graduanda em Revisão de Textos. Poeta, escritora, autora dos livros publicados: "Ah! mar Itajaí" e “S.O.S Mamãe de Primeira Viagem” e autora do Romance espírita “Lágrimas de Outono”. Que será publicado pela editora Arwen (Selo SER), na Bienal do Livro SP.

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Semana que vem tem mais um, fiquem ligadinhos no clube S2
Beijos.
~Giu~

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