Editora Fontanar
[resenha Internacional] Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou de um massacre - Immaculée Ilibagiza
Olá, gente querida!
Hoje, trago para vocês a resenha do livro “Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou de um massacre”,
de Immaculée Ilibagiza.
Neste livro, rebuscando suas memórias, Immaculée, a mulher que sobreviveu ao
estarrecedor genocídio ocorrido em 1994, em Ruanda (que vitimou mais de 800 mil
pessoas num massacre que chocou a África e o mundo), faz um relato impactante
sobre como ela e mais sete mulheres sobreviveram durante três meses escondidas
em um minúsculo banheiro para escaparem da morte. É um relato de vida real, no
qual o leitor se depara com os sentimentos mais cruéis e impiedosos que o ser
humano impõe ao seu semelhante em prol da intolerância, do poder e da ganância.
Este é o tipo de leitura que a gente gostaria que os fatos narrados não fossem
reais, fossem fantasias, ficções, que nunca tivessem ocorrido. Entretanto, esse
e outros genocídios aconteceram na história da humanidade e, mesmo chocando a
quem lê, devem ser do entendimento e conhecimento de todos para, quem sabe, além
de simplesmente constarem dos anais da história, nunca mais, por razão ou
motivação alguma, tornem a acontecer. A religiosidade e o poder da fé
inabalável de Immaculée também são pontos fortes da narração.
Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou de um massacre
(Immaculée Ilibagiza)
Ano: 2008 / Páginas: 240
Idioma: Português
Editora: Fontanar
Sinopse:
Esta é a história de uma mulher extraordinária,
a jovem africana Immaculée Ilibagiza, que, aos 22 anos, sobreviveu ao
massacre de seu povo. Confinada num banheiro durante três meses, junto com mais
sete mulheres, ela lutou contra o medo e o desespero, ouvindo as vozes dos
homens que queriam matá-la. Em 1994, Ruanda viveu um
dos mais sangrentos genocídios da História. Conflitos étnicos ancestrais se
transformaram num holocausto, em que mais de um milhão de ruandeses foram
barbaramente assassinados. Da noite para o dia, a vida de Immaculée mudou de
forma radical. Os jovens hútus, que antes eram seus vizinhos, colegas de turma
e até amigos, se transformaram em caçadores, treinados para matar e torturar
todos os tútsis que encontrassem pela frente. Como ela conseguiu escapar da
morte é um mistério além de toda compreensão. Mas conseguiu: não só sobreviveu como não perdeu
sua humanidade. Immaculée é a prova de que somos capazes de superar os traumas
mais profundos por meio da fé e da espiritualidade. Seu relato de sofrimento,
esperança e vitória é uma inspiração a todos.
A história de Immaculée me tocou tanto que após
ler o livro dei uma pesquisada sobre o assunto e fiz um pequeno resumo para
auxiliar o leitor que, assim como eu, tiver a curiosidade de saber a motivação
de tanta iniquidade. Achei interessante colocar essas informações antes da
resenha, para que ao apresentar a história, todos tenham algum conhecimento dos
fatos. Bem, essa foi minha interpretação sobre o genocídio em Ruanda:
Ruanda, capital Kigali, é um
país pequenininho localizado na região dos Grandes Lagos da África
Centro-Oriental. A maioria dos ruandeses professa a religião católica e sua
população em sua quase totalidade é constituída por três tribos: Hutus
(maioria), Tutsis (minoria) e um número insignificante de Twa (pigmeus).
Apesar da grande maioria dos
ruandeses ser hutus (cerca de 85%), por muito tempo, a minoria tutsi dominou o
país, detendo as funções e cargos mais importantes e privilegiados, enquanto
que aos hutus cabiam cargos e funções menos relevantes e os trabalhos braçais.
Essa condição prevaleceu por muito tempo até os hutus se revoltarem, se
organizarem e em 1959 derrubarem a monarquia tutsi. Milhares de tutsis fugiram para países vizinhos
incluindo a Uganda. Um grupo de exilados tutsis formou a Frente Patriótica
Ruandesa (RPF) que invadiu Ruanda em 1990.
Em 1993 foi assinado um acordo de paz e, logo após o acordo que parecia por fim aos conflitos tribais, em seis de abril de 1994, o avião que transportava
dois líderes hutus, o presidente de Ruanda (Juvenal Habyarimana) e o presidente
do Burundi (Cyprien Ntaryamira), foi derrubado matando os dois líderes. Os
hutus culparam a RPF pelas mortes (há quem diga que foram os próprios hutus que
derrubaram o avião para justificar a chacina) e imediatamente deram início ao
sangrento e cruel genocídio que durou cem dias, vitimando mais de 800 mil
tutsis (o número de mortos varia de acordo com as fontes: umas dão conta de 500 mil mortos, outras, contabilizam mais de um milhão).
A maioria dos estudiosos afirma
que a colonização Belga foi fator determinante do genocídio, entretanto, há
correntes que afirmam que a colonização Belga não foi a principal causa, mas um
dos fatores determinantes, pois a posição social que hutus e tutsis possuíam já
fazia parte da tradição ruandesa. Com a chegada dos belgas essa tradição foi
sendo erradicada quando os belgas passaram a “classificar” os ruandeses,
através de características (detalhes) físicas em hutus e tutsis e registraram
em seus cartões de identidade sua posição social (se eram hutus ou tutsis),
acirrando a rivalidade já existente. O catolicismo também contribuiu com o
genocídio, pois de acordo com os estudiosos, a alta cúpula da igreja católica
ruandesa estava vinculada ao poder do Estado e foram os principais bispos e
alguns padres de Ruanda que autorizaram a matança dentro das igrejas (locais
que deveriam manter em segurança as pessoas que ali procurassem ajuda).
Um conflito étnico entre duas aldeias “irmãs” em
busca de poder, deu início a um sangrento e cruel massacre local. Eles invadiram casa torturando até a morte. Vizinhos
mataram vizinhos, maridos hutus mataram suas esposas tutsis. Mulheres tutsis
foram barbarizadas, estupradas e mortas. Muitas delas foram levadas pelos hutus
e mantidas como escravas sexuais. Crianças eram trucidadas na frente dos pais e
mulheres grávidas tinham o ventre dilacerado e seus bebês arrancados e mortos
na frente de todos. A ONU e a Bélgica tinham forças de segurança em Ruanda, mas
são acusadas de não fazerem nada para pararem a matança. Os franceses enviaram
militares para criar uma zona de segurança, mas, também, são acusados de serem
aliados aos hutus e de não fazerem nada para deter os assassinatos. Enfim, uma
combinação de ganância, ódio, preconceito, vingança e omissões dizimaram
barbaramente cerca de 75% da população tutsi. Foi um período feio, bárbaro,
impiedoso e desumano da história mundial.
Sobre a autora:
Immaculée Ilibagiza é uma escritora e
palestrante ruandesa,
mais conhecida por seu livro autobiográfico "Left to Tell: Discovering God
Amidst the Rwandan Holocaust" ("Sobrevivi para Contar - O Poder da Fé
me Salvou de um Massacre", edição em português). Estudou eletrônica e engenharia mecânica na Universidade Nacional.
Perdeu a maior parte de sua família durante o genocídio de 1994.
Quatro anos mais tarde, emigrou de Ruanda para os Estados
Unidos e foi trabalhar na Organização das Nações Unidas, na cidade
de Nova York.
Dedica-se neste momento à Fundação Ilibagiza, que se
destina a ajudar outros sobreviventes a se recuperarem dos efeitos a longo
prazo do genocídio e da guerra.
Immaculée reside em Long Island, com o marido Bryan Black e os
filhos de ambos, Nikeisha e Bryan Jr.
Resenha
No
livro “Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou de um massacre”, a
autora, Immaculée Ilibagiza,
relata de maneira clara, objetiva e muito emocionante a história de sua vida,
mais precisamente, de como sobreviveu ao cruel genocídio ocorrido em Ruanda, no
ano de 1994. A autora deixa claro que o livro não tem a pretensão de contar a
história de Ruanda ou do genocídio, mas, sim, a história de sua vida, e de como
ela sobreviveu ao genocídio. Entretanto, ao relatar tão minuciosamente suas
impressões e toda perseguição, perdas, angústias e dor pelas quais passou, ela
acaba dando ao leitor informações valiosas sobre as motivações e a forma como
os tutsis foram dizimados, tornando-o conhecedor de toda a tragédia e horror
que não só ela, mas que todos os tutsis passaram. É um relato ao mesmo tempo
chocante, pela crueldade dos atos e fatos, e comovente, pela experiência que a
autora teve com o poder de sua fé em Deus.
Em primeira pessoa do singular, Immaculée conta todo
horror pelo qual passou durante os cem dias que durou o conflito. Immaculée
começa a narração se apresentando e apresentando seu país a todos os leitores.
Nesta parte a autora retroage no tempo para que o leitor possa tomar
conhecimento de como ela e sua família pensavam e viviam antes do terrível
conflito. Seus pais (Leonard e Rose)
eram professores e acreditavam que a educação era a única arma contra a pobreza
e a fome e, por isso, investiram na educação de seus quatro filhos, três
meninos (Damascene, Vianney
(mortos) e Aimable, e uma menina (Immaculée).
Immaculée e sua família eram católicos fervorosos, amavam-se e
eram muito unidos. Seus pais eram respeitados e queridos pela vizinhança. Immaculée
sempre foi muito estudiosa e, apesar de em seu país as meninas não serem
incentivadas a estudar, pois o casamento era o máximo que uma mulher poderia
almejar, seus pais sempre fizeram de tudo para que ela, através dos estudos,
tivesse sua independência intelectual e financeira. Com o incentivo e apoio da
família Immaculée ingressou na Universidade. Ela sabia que havia desavenças
entre tutsis e hutus, mas não imaginava que essa rivalidade culminaria com o
acontecimento que devastaria seu povo.
“Em nossa casa, racismo e preconceito eram totalmente desconhecidos. Eu não tinha consciência de que as pessoas pertenciam a tribos e raças diferentes e, até entrar para a escola, jamais havia escutado palavras como tútsi ou hútu... eu era uma menininha muito feliz, em uma família feliz, habitante do que me parecia ser uma aldeia feliz, onde as pessoas se respeitavam e eram amigas umas das outras.”
”Meus pais eram professores, pais extremosos e muito respeitados na aldeia. Éramos quatro filhos e só eu de menina, os amávamos muito e éramos muito próximos até o último minuto antes de nossa separação. Lembro-me que nossos vizinhos eram com pais para nós. Sabíamos que tinham problemas entre os Hutus e os Tutsis, porém, nunca imaginamos que o ódio imperaria.”
A história prossegue e Immaculée continua seu relato
repassando ao leitor todos os sentimentos que a invadiram durante os três meses
que ela e mais sete mulheres passaram escondidas em um minúsculo banheiro,
amontoadas, amedrontadas, em silêncio absoluto, comendo restos da casa (quando
era possível). Tinham seus ciclos menstruais sem as mínimas condições de
higiene, sem direito a tomarem um banho sequer, num banheiro que tinha como
área de ventilação apenas uma pequena janela basculante, à altura do teto,
coberta por um pedaço de pano vermelho. Immaculée conta que a única coisa que
podia fazer era rezar doze, treze e até mais horas por dia. Por vezes, quando o
pastor conseguia ir até elas, contava-lhes sobre as atrocidades que estavam
acontecendo lá fora, o que as deixavam cada vez mais aterrorizadas, vivendo
numa constante tortura física e mental.
“Não sou capaz de dizer quanto medo você sente quando sabe que eles podem nos pegar a qualquer momento. Eles tinham facões. Eles tinham lanças.”
“Por favor, Deus, deixe cegos os assassinos quando chegarem ao quarto do pastor — não permita que descubram a porta do banheiro, não permita que eles nos vejam. Você salvou Daniel da cova dos leões, impediu que eles o fizessem em pedaços... não permita que esses homens nos façam em pedaços também. Deus, proteja-nos como protegeu Daniel.”
“Eu sabia que existiam problemas entre as duas tribos. Mas nunca imaginei... simplesmente aconteceu. Sem motivo algum. Ficamos naquele banheiro por três meses. Eles nunca nos encontraram.”
Immaculée sentia que perdera todos aqueles a quem amava e
por quem tinha grande apreço e carinho, pois seus parentes e amigos ou estavam
mortos ou se transformaram em caçadores cruéis de tutsis. Perdeu pais, irmãos
(só um sobreviveu por encontrar-se longe do local do conflito), amigos,
vizinhos, colegas, o namorado John (de etnia hutu), com o qual havia namorado
firme por dois anos e já haviam vislumbrado casamento. Para termos ideia das
privações pelas quais ela e suas companheiras de confinamento passaram, relatou
que quando entrou naquele banheiro, pesava 52kgs e, ao sair, estava pesando em
torno de 29kgs. Immaculée prossegue seu relato narrando as situações
difíceis e desafiadoras pelas quais passou após sair do banheiro, a pouca ou
nula atuação da ONU para estagnar o conflito e a pouca eficácia das tropas
francesas e dos belgas para deter os assassinos. Em todos esses momentos e
situações, a autora professou sua crença, sua fé em Deus.
“Aquela estrada me havia levado a todos os lugares que eu amava. A estrada atravessou minha vida, mas essa vida já não existia. Era agora um caminho percorrido por assassinos e estupradores. Uma tristeza profunda tomou conta de mim à medida que me dava conta de que, acontecesse o que acontecesse, minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Fechei os olhos e disse a Deus que cabia-Lhe encontrar o novo caminho que eu deveria seguir.”
Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou
de um massacre é um livro no qual o leitor enxerga sob os olhos e sentimentos da autora a matança impiedosa de seu povo, além de deixar bem claro aos
leitores que sua sobrevivência ocorreu única e exclusivamente pela fé
incondicional e inabalável em Deus, que a amparou e a livrou de morte tão
cruel. É um relato de todo o horror que
o holocausto impôs ao seu povo e da infeliz constatação de o quanto o ser
humano pode ser cruel e impiedoso com seus semelhantes.
Minha opinião sobre a obra
Bem, queridos leitores, li “Sobrevivi para Contar - O
poder da fé me salvou de um massacre” muito rapidamente. Este é o tipo do livro
que, apesar de conter um enredo forte, impele o leitor a prosseguir
ininterruptamente com a leitura. Gera angústia e ao mesmo tempo expectativa de
se conhecer detalhes da impressionante trajetória de fé, resistência e vitória
de Immaculée Ilibagiza. O único ponto que me incomodou na narrativa da autora foi o fato de
ela atribuir a forças malignas toda essa carnificina, pois acho uma maneira
muito simplista de tentar justificar os atos bárbaros cometidos por seres
(ditos) humanos. Não há de se desconsiderar que não foram atrocidades cometidas
ao acaso, sem planejamento e/ou motivação. Através do próprio relato de
Immaculée e de pesquisas, tomei conhecimento das principais causas que
deflagraram tal barbárie. A grande maioria dos hutus, incluindo religiosos,
decidiu pelo genocídio, mas teve também hutus, como o pastor que arriscou sua
vida e a de sua família escondendo-as no banheiro, que optaram por tentar
poupar, salvar vidas. Então, de acordo com a natureza de cada um, escolhas
foram feitas e cada um deve ser responsável e responsabilizado por atos (bons
ou ruins) que praticou em razão de sua escolha.
“Sobrevivi para Contar - O poder da fé me salvou de um
massacre” relata os sentimentos mais vis e também os sentimentos mais nobres e
virtuosos que o ser humano pode expressar. Através de um relato dramático e comovente,
ficamos sabendo através do ponto de vista de Immaculée Ilibagiza, uma
sobrevivente ao genocídio ocorrido em Ruanda, que o extermínio impiedoso de
cerca de 75% dos ruandeses tutsis foi fruto da intransigência, da intolerância,
da ganância pelo poder e da falta de misericórdia do homem com seu próximo. Ele
não só contém a história das agruras pelas quais Immaculée passou durante três
meses escondida em um pequeno banheiro com outras sete mulheres para escapar da
morte, como também é uma confissão categórica de religiosidade e fé em Deus, fé
essa que, particularmente acho, que aliada a sua determinação em não se deixar
matar de forma tão bárbara, tornou-a vitoriosa. Aos agnósticos, digo que a
intenção da resenha não é fazê-los crer em Deus, mas, sim, expor o sentimento
da autora de que uma força superior lhe amparou e a ajudou a suportar todas as
penúrias impostas pelos algozes do seu povo. Essa força ela (e eu) chama de
Deus. Cada um denomine-a como quiser, de acordo com suas convicções e crenças.
“Eu nunca me rendi à morte, de alguma forma senti que deveria viver. E eu supliquei a Deus: Deus, se você estiver aí, expulse daqui os assassinos, por favor, antes que eles nos encontre.”
Os assassinos não “enxergaram”
Immaculée. Ela sobreviveu graças a sua fé incondicional e inabalável em Deus. Atualmente, ministra palestras em todo mundo sobre os horrores provocados pelo holocausto
que exterminou quase a totalidade de seus irmãos étnicos e deixou sequelas irreparáveis
e inesquecíveis nos que a ele sobreviveu.
Que
relato impressionante, dramático e comovente!
Oi Vandinha linda do meu coração!
ResponderExcluirQue resenha mais linda, deve ser bem emocionante essa história, é triste saber que histórias tão absurdas e cruéis possam ser verdadeiras :(
Que bom que ela sobreviveu para contar a história e passá-la adiante para que um dia talvez não tenhamos mais semelhantes.
Beijos!!
Te amoooooo
Olá, Giu.
ResponderExcluirQuando tiver um tempinho leia o livro. Tenho certeza que você vai gostar. Não como entretenimento, porque é um relato que nos entristece, mas por nos despertar muitos sentimentos e por podermos acompanhar toda a trajetória de penúrias e de vitória da autora.
Obrigada pelos elogios.
Também te amo de montão.